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terça-feira, 11 de maio de 2010

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Drogado ou Gay? Como você prefere o seu filho?


Já ouvi algumas vezes senhoras dizerem que "preferem ter um filho drogado e viciado a um filho homossexual". A explicação para tal preferência? "Pois o drogado pode ser curado". Vamos pensar.


Um filho drogado é dependente químico. A distância entre o inicio da dependência e a chegada ao fundo do poço pode ou não ser longa, pode ou não existir. O caminho percorrido encontra violência, agressão, roubos, qualquer coisa para se conseguir suprir o vicio. Já acompanhei casos de perto. Caso de filhos de classe média, que apesar de inúmeras internações, continuaram com o seu vício, agredindo família, namoradas, amigos. Filhos de classe média que perto dos 30 anos não conseguiram se formar em uma faculdade e nem se estabilizar em um emprego.


Vamos para o filho gay. Vou citar um exemplo próximo, um amigo meu. Formado em jornalismo também, antes dos 25 anos conseguiu se estabilizar em uma das maiores emissoras do mundo. Respeitadíssimo no trabalho, assume diversas funções, faz tudo na mais perfeita perfeição. É um filho amoroso. Gosta de ter a companhia dos pais no tempo livre. Agrada a mãe sempre que pode, dá satisfações dos lugares que vai e nunca a deixa preocupada. Tem amigos, mantém relacionamentos sérios, estáveis. A diferença? É gay. Gosta de homens.


Tire o "drogado" da primeira descrição. Tire o "gay" da última descrição. Que filho você preferia ter? Quem precisa ser curado?



O interessante de se comentar programas populares como o Big Brother é a gama de assuntos aleatórios que ele incita. Peca aquele que acredita que com esse tipo de programa não se pode tentar discussões mais sérias na sociedade. Nesse ano, por exemplo, tivemos o tal Big Brother colorido. Três homossexuais assumidos entraram no programa. Um gay, uma drag queen e uma lésbica. Em contrapartida, o programa apresentou uma figura completamente alheia àquele universo: um lutador conhecido por seu comportamento machista.


Essa diferença fez com que um termo um tanto quanto estranho fosse levantado: heterofobia. A torcida do lutador alegava que ele sofria preconceito por ser heterossexual. O lutador muitas vezes disse estar defendendo "a bandeira da heterossexualidade", e em entrevistas após o término do programa garantiu que "sofreu heterofobia". Fobia, segundo a definição do dicionário, é a aversão a alguma coisa ou um medo mórbido. Procure homofobia no dicionário.

homofobia

ho.mo.fo.bi.a

(homo(ssexual)+fobo+ia1) sf 1 Preconceito contra os homossexuais. 2 Ódio aos homossexuais, muitas vezes levando à violência física.

Agora, procure heterofobia.

Nenhuma palavra encontrada.

Estamos inseridos em uma sociedade de maioria heterossexual, ou seja, onde a maioria sente atração pelo sexo oposto. Em uma sociedade patriarcal, machista, onde o homem - heterossexual - tem a última palavra. Como então dizer que um heterossexual assumidamente ligado aos conceitos patriarcais sofreu preconceito por... fazer parte da maioria? Ou, traduzindo para o português mais simples possível: como um homem sofreu preconceito por gostar de mulher?



É dificil pensar que em pleno século XXI as pessoas podem ser julgadas pela forma de expressar o amor. No que te afeta alguém gostar do mesmo sexo? Isso tira suas posses? Mexe com a segurança da sua família? Qual o porquê de se sentir incomodado com uma manifestação de afeto?


Nota-se aqui que o exemplo do Big Brother é apenas um pano de fundo para uma questão maior. Um programa popular, que envolve milhares de opiniões do Brasil inteiro, bem ou mal, reflete a opinião de uma maioria. Uma torcida que se movimentou com afinco para fazer um campeão baseado em clichês machistas e humilhações àqueles que não se enquadram no quesito da heterossexualidade é algo para se assustar. Durante três meses, quem acompanha o programa pode ver manifestações e opiniões violentas, chulas, denegrindo a imagem de participantes homossexuais, julgando sua sexualidade como um tipo de defeito. Situações que chegaram ao ponto de participantes precisarem recorrer à seguranças profissionais para garantirem a sua integridade física.

Ainda há muito no que se avançar. Faço parte de uma geração que aceita melhor o diferente, que aprendeu que a convivência de brancos, negros, japoneses, indios, gays, heterossexuais, bissexuais, pansexuais ou seja lá o que você seja, é normal. É saudavel. Todos agem assim? Não. Mas jovens já encontram um ambiente mais seguro para assumirem suas preferências, se assumirem e poderem conviver em paz.


Apesar disso, o equilibrio ainda não está perfeito. Ainda vemos notícias de jovens que são maltratados, espancados, humilhados ou até mesmo - pasmem - mortos por sua orientação sexual. Ainda existem grupos que se acham no direito de agredirem o outro por não fazer parte de uma "maioria". Esse mesmo grupo que espanca gays é o que acredita que mulher é inferior, que negro não presta. Que conceitos são esses? O que nos faz tão diferentes?


Piadas e insinuações a respeito de orientações sexuais são imensas. Graças à nossa sociedade machista. Afinal, homem homossexual é boiola, é viado, é anormal. Mulher homossexual é objeto de desejo de filmes pornôs. Afinal, ela vai querer se relacionar com a outra mulher e com o cara, não é mesmo? E o cara vai poder se relacionar com as duas, não é?


Como quebrar esse estigma machista? Como educar uma sociedade para aceitar o diferente, que nem tão diferente é? Todos namoram. Todos se relacionam. Qual a diferença se isso é feito com o mesmo sexo ou o sexo oposto? No que isso te fere?


Há um tempo atrás, os Estúdios Mauricio de Sousa publicou uma história que rendeu polêmica. Dentro da linha jovem da Turma da Mônica, temos a Revista da Tina - jovem estudante de jornalismo que vive os conflitos das pessoas de sua idade. Tina apareceu, certa vez, com um amigo gay.


A história não deixou claro que o menino é gay. Insinuou, discutiu levemente o preconceito, mas parou por aí. Mesmo assim, gerou protestos de pais que acreditaram que uma simples historinha poderia influenciar na educação sexual de seus filhos de forma que julgassem negativa. Mas por que não mostrar para as crianças, desde cedo, que existem pessoas que gostam do mesmo sexo?


O egoísmo destrói relações. O egoísmo de se achar que, só porque alguém não tem as mesmas ideias que você, os mesmos conceitos, ele está errado. A sociedade avançou, mas ainda falta muito para que todos alcancem o fim do arco-íris e descubram que, lá no final, não tem um pote de ouro. Mas tem pessoas convivendo alegre e harmoniosamente, independente de sua cor, etnia, classe social ou orientação sexual.


E no fim, que filho você prefere ter?
Eu prefiro um filho gay*.






*gay, em inglês, é um termo que se refere a "feliz".