Um assunto um tanto quanto estranho tem tomado a mídia nas últimas semanas. Como todos que acompanham noticiário sabem, uma aluna do curso de turismo da Uniban, campus SBC, causou alvoroço entre seus colegas de faculdade por usar um microvestido rosa pink durante a aula. Na internet, foi postado um vídeo onde a aluna era escoltada para fora do campus com o auxilio da polícia, enquanto alunos aglomerados em volta gritavam a palavra "Puta!". O vídeo causou polêmica.. "quem é essa aluna?" "qual o tamanho do vestido?" "quem são os alunos aglomerados?" "oh Meu Deus, estamos no Talibã?"
Nas últimas semanas, essa história ganhou proporções maiores do que deveria. A aluna, distribuiu entrevistas pela mídia, participou de programas, a título de "a garota humilhada da Uniban". Os alunos da universidade, por outro lado, deram alguns depoimentos, dizendo que o comportamento da estudante sempre foi provocativo, com trajes curtos e inadequados, na tentativa de chamar a atenção durante as aulas. A "humilhada", frente a esse fato, alegou se vestir como "todas as outras garotas": com decotes, vestidos curtos e jeans colados.
Muitas comparações estranhas foram feitas nessa história. Pessoas "abismadas" sobre como que no país do carnaval, da mulher melancia, uma aluna é humilhada por ir de mini vestido para aula. Pois bem, vamos organizar esse fato?
Um erro não justifica o outro. Não é pelo fato de termos um carnaval desnudo ou "ídolos popularescos" como mulher melancia, que devemos considerar normal pessoas se vestirem de formas erradas em ambientes coletivos. É motivo de orgulho para alguém as mulheres peladas na avenida ou uma mulher carregar com felicidade a alcunha de uma fruta? Precisamos analisar esse fato de um modo simples: em regras da sociedade, até em regras internas de certas entidades, é preciso se adequar ao ambiente que se está para vestir alguma roupa. Em uma instituição de ensino ou em um ambiente de trabalho, por exemplo, não são aconselháveis decotes, roupas justas ou grudadas. Homem costuma não poder trabalhar de bermuda ou ir a universidade/colégio de camiseta regata (já ouvi muitas reclamações a respeito). Por que uma mulher pode ir de vestido curto, então?
Hoje a universidade Uniban soltou um comunicado declarando a expulsão da aluna e a punição de quem causou o tumulto. Declarou que a estudante em questão sempre teve comportamento e vestimentas inadequadas, já foi alertada diversas vezes mas nunca tomou providências. Bem ou mal, precisamos aceitar: é uma instituição de ensino particular. Eles tem o direito de elaborar suas regras e seus precedentes para aceitar ou não alunos. Eu sempre achei que essa história era um pouco mais longa do que aquela divulgada na mídia. Não consigo acreditar que a comoção pública na faculdade foi resultado apenas de um único vestido.
É assim que a aluna diz que estava vestida naquele dia. Agora, vamos combinar. Não. Não era assim. Qualquer pessoa que já viu um vestido desse pessoalmente, sabe que ele não é desse tamanho. Esse tipo de vestido sobe ao primeiro passo, ficando do tamanho de, no máximo, um palmo. Ele não é do tamanho que a foto mostra, onde está, claramente, esticado.
Foi errada a atitude dos alunos da Uniban? Foi. Independente do vestido, da pessoa, do histórico da pessoa, em momento algum deve-se tentar humilhar alguém, ainda mais por um fato tão banal. A Uniban deveria sim ter contido seus alunos antes do assunto tomar tamanha proporção. Onde estavam os professores, os diretores, o reitor dessa faculdade enquanto isso acontecia?
Agora, nada justifica a expulsão da estudante da faculdade. Tendo em vista que a vitima da agressão foi ela, porque motivo ela deve sair da cena do crime? Se o fato chegou a esse ponto, pode-se acreditar que a Uniban não tomou todas as medidas que garante ter tomado antes de expulsar a garota. E aqueles que gritavam, criaram o tumulto, pararam um dia letivo, não deveriam esses ter o mesmo destino?
A universidade estava errada ao permitir que um escândalo acontecesse dentro de seu espaço. Os alunos errados ao atacarem moralmente assim uma pessoa, que além de tudo estava sozinha e sem chances de defesa. A aluna errada ao não saber se adequar - como podemos dizer, vestimentalmente?! - dentro de uma instituição de ensino. Enquanto isso, devido a cobertura que o caso tomou, a aluna aproveita a situação para ocupar, muito bem, o papel de vítima. A universidade para ocupar, muito bem, o papel de acusadora. E nós, meros espectadores de uma história tão absurda, ocupamos aqui o papel de julgadores, mesmo sem merecermos esse lugar, já que nunca saberemos a história completa que culminou na degradação de um mini vestido rosa pink.